quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Diário de um Papai Noel – by Junior Cohen

Eu sou o papai Noel, o velho Noel, o bom velinho, Santa Claus, enfim todas essas porras de codinomes ridículos que me conhecem por aí, mas o que venho lhes contar aqui é a minha decadência e como um ícone mundial pode ter se perdido no mundo atual.

Eu era feliz, tinha tudo, todos me amavam, os duendes trabalhavam pra mim em troca de amor e felicidade, as pessoas me esperavam ansiosas pela minha chegada no dia 24 de Dezembro.

Um belo dia 24, vou eu, como de praxe entregar um presente a uma criança, chegando, me deparei com uma chaminé estreita, já fiquei puto, mas, enfim, tudo pelo Natal. Me espremi todo que nem anão em liquidação, chegando na sala descobri que não fizeram a limpeza da chaminé ultimamente, fiquei mais puto, respirei fundo até me deparar com aquela criança linda, angelical, com um brilho diferente nos olhos, tudo mudou, rapidamente retirei do saco um carrinho de madeira lindo, foi incrível vê-la segurando aquele presente até ele dizer: “cadê o playstation 3 que eu pedi velho filho de uma puta?”. Naquele dia tudo começou a mudar em minha vida, e só naquela noite ouvi uns 347 “vai tomar no cú”, uns 230 “vai se foder”, e uns trocentos “caralho, cadê meu play3”.

Percebi que estava na hora de eu me modernizar, então gastei uma puta grana pagando curso de eletrônica para os meus duendes tentarem fabricar, além daqueles brinquedos ultrapassados, vídeo games de última geração também. Como era de se esperar, me fodi, gastei uma grana preta e aqueles duendes orelhudos de merda não conseguiram criar nem uma merda de um Tetris. Então tava na hora de buscar um plano B, e fiz uma viagem ao Paraguai pra sondar o mercado. Chegando lá consegui um contato com um paraguaio de nome Pablo Ramirez, que me garantiu mercadoria de qualidade.

No próximo natal foi moleza, ninguém trabalhou o ano inteiro, afinal tudo já estava devidamente comprado e com o dinheiro dos patrocínios que eu tinha como o da Coca Cola e ainda direitos autorais da publicação do meu nome, eu consegui pagar tudo.

Na primeira entrega já comecei me fodendo, quando uma garotinha pegou a sua boneca e apertou a barriga dela esperando ouvir um “mamãe to com fome” ouviu a seguinte frase: “ai ai ai carai! Donde está mi marihuana?”. Saí daquele recinto a base de chutes e pontapés e quase que fui preso, pois o pai daquela moleca dos infernos era PM.

Então foi só questão de tempo até chegarem as cartas e reclamações e devoluções de material danificado. Aquele Pablo desgraçado! Mas o pior ainda estava por vir. No meio de alguns presentes Pablo mandou um pouco da sua mercadoria proibida, se é que vocês me entendem, e, consequentemente, alguns dos meus duendes se tornaram dependentes de pó e maconha, logo, não querem mais saber de trabalho e passam o dia inteiro dormindo e a noite acordados comendo toda a porra da minha comida.

Por conseqüência a mamãe Noel, aquela velha fodida, pediu divórcio levando quase tudo que eu tinha. Afundei nas dívidas, e, como desgraça maior, veio a Receita Federal, que quer me enquadrar por causa das muambas sem nota fiscal que comprei.
Chegando lá se depararam com uma dezena de duendes de menores trabalhando, fumando maconha e se relacionando sexualmente uns com os outros chapados. Fui enquadrado também por pedofilia, trabalho escravo infantil e venda e distribuição de drogas para menores. No momento que começaram a recolher as muambas, descobriram um boneco Max Steel recheado de cocaína. Fui enquadrado também por tráfico de entorpecentes.

Por sorte consegui um advogado que estava comendo um duende fresco meu e conseguiu um Hábeas Corpus. Tô respondendo em liberdade.

Depois disso me afoguei na cachaça, cigarro, vendi minhas renas pro circo do Beto Carreiro, torrei toda a grana no puteiro e no jogo do bicho. Fiquei na merda.

Por sorte fui chamado pra fazer um bico na vila encantada, um salário mínimo mais adicionais, pra trabalhar sentado ouvindo crianças fedorentas o dia inteiro.

No começo tava até tranqüilo, muitas gostosas levando seus filhos, já tinha até conseguido o tel de uma babá. Mas não agüentei, era moleque e mais moleque chegando e pedindo presentes impossíveis como o botafogo ganhar o campeonato brasileiro, essas coisas das crianças de hoje em dia, até que um gordinho lazarento dos infernos me pede pra que eu morresse porque ele pediu de Natal que seus pais não se separassem e eles se divorciaram.

Me veio uma raiva súbita tão grande, que eu sapequei o moleque uns 3 metros de distância, me levantei agarrei a mãe desse menino pelo pescoço, chamei ela de puta e dei uma dedada nela, e fui embora daquele lugar. Mais tarde roubei uma garrafa de “roskoff” de uma loja de conveniência e fui preso.

Hoje estou aqui, tentando me restabelecer no mercado natalício e colhendo os frutos dessa decadência, como uma cirrose e uma sombra no pulmão, uma sífilis de um traveco, que de tão bêbado, acabei comendo pensando ser uma prostituta, e tendo que trabalhar de flanelinha de dia pra poder me sustentar.

Não consegui ainda recuperar as renas, mas já consegui comprar dois jegues e uma égua manca, contratei 4 anões para me ajudar nas muam....ops....nos brinquedinhos, enfim, tô tentando crescer novamente e, aos poucos, já aparecem as propostas de um comercial da Yamada ou outro do refrigerante Fly, e rezo todos os dias para que o Natal volte a ter a magia que tinha antes.

A todos um feliz Natal e desculpem a pressa mas tenho que responder a minha primeira carta de Natal que recebi depois da minha decadência.

“Quirido Papai Noé

Pesso pro sinhor que me dê di natal uma bola, me comportei o ano inteirinho e só tirei 5 nas minhas provas, não fiz ninhuma danação, só aquele vídio que gravei da minha coleguinha do ulysses guimarães. Tratei bem a minha mãe, nunca mais chamei ela de puta e nunca mais chamei meu pai de corno, já parei de bater no mano que virou fresco e parei de roubar pato do meu vizinho.
Ass: Cleydirson Maicou”

“Querido Cley, primeiro que Noé foi aquele velho filho da puta que meteu um monte de bicho na arca, muleque burro. Segundo que estudas em colégio de governo e ainda tira só 5, tu é burro pacas,ainda mais com esses erros de português, e ainda filma aquela amiguinha no Ulysses e nem sequer meteu o pau na boca dela. E agora só de sacanagem não vou mandar porra de bola nenhuma, to mandando a pica de borracha que teu irmão pediu, uma calcinha de couro pra tua mãe e uma garrafa de Ypioca pro teu pai e pra ti....vai roubar pato e enfia o pato no teu cu e vai encher o saco do caralho do Noé que ama os animais.

Ass: Papai Noel.

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